quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Pará terá Comissão Estadual da Verdade




Pará terá Comissão Estadual da Verdade (Foto: Cristiano Martins/ Agência Pará)
(Foto: Cristiano Martins/ Agência Pará)
O Pará pode vir a ter a própria Comissão Estadual da Verdade. Foi o que sinalizou ontem pela manhã o governador Simão Jatene em audiência com os membros da Comissão Nacional da Verdade, que busca esclarecer fatos ainda obscuros em relação aos crimes contra a dignidade humana durante os períodos de exceção democrática no País, principalmente durante a ditadura militar de 1964 a 1984.
Ao relatar episódios em que vivenciou na pele a censura, por conta de uma música que compôs para uma peça de teatro e de uma cena da mesma apresentação, Jatene garantiu que irá encaminhar projeto de lei para a criação da Comissão estadual.
Quem irá articular essa proposta é o secretário de Justiça, José Acreano Brasil Júnior. A intenção do governador é chamar os líderes de bancadas para definir um projeto de lei com apoio suprapartidário. “Um povo sem memória não é povo, é população”, disse o governador.
“Foi uma agradável surpresa”, afirmou o professor Paulo Sérgio Pinheiro, membro da Comissão Nacional da Verdade. “Agora precisamos esperar que a Assembleia Legislativa aprove o projeto”. “A criação de uma comissão estadual é fundamental para que consigamos restabelecer a verdade. Conhecer a fundo esse período é necessário para que possamos internalizar esses fatos. Isso sedimenta a democracia”, afirmou o ex-procurador da República Cláudio Fonteles, também integrante da Comissão Nacional.
Além do encontro com o governador Simão Jatene, a Comissão Nacional da Verdade realizou à tarde uma audiência pública no auditório da Unama, com o objetivo de colher relatos de graves violações de direitos humanos, praticadas por agentes públicos, ocorridas no Pará, no período pós-1968.
Entre os depoimentos, o do ex-governador Aurélio do Carmo, 90, chamou a atenção. Recebido com aplausos, Aurélio do Carmo relatou a experiência de ter sido deposto pelos militares logo após o golpe militar de 64. “Fui apeado do poder, decretei luto oficial de três dias e desci as escadarias do palácio para retornar à vida privada. Foi o dia mais triste de minha vida”, afirmou.
O ex-governador credita o fato a quatro episódios. Ter estado com o comunista Luís Carlos Prestes, ter visitado a União Soviética e a Tchecoslováquia, países também comunistas, e ter o notório comunista Benedito Monteiro no quadro das secretarias de governo.
Relatos emocionados como o de Marga Rothe e de Eneida Guimarães também chamaram a atenção do auditório da universidade, lotado. Eneida afirmou ter sido vigiada pela Agencia Brasileira de Informações até 1988. Durante praticamente uma década Eneida foi militante clandestina, presa em Goiás. “Sofri tortura psicológica”, disse.
A militante do PCdoB lembrou ainda uma lista de paraenses mortos pela ditadura militar principalmente nos anos 70 que nunca tiveram uma resolução efetiva. Segundo o ativista Paulo Fontelles Filho, a vinda da Comissão da Verdade ao Pará é uma demonstração do esforço feito no estado nesse sentido. “É o quarto estado visitado pela Comissão da Verdade. Agora vamos trabalhar para criar a comissão estadual”, afirmou.
Fonte:(Diário do Pará)

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